METRONIDAZOL Álcool, Tabaco, Lítio e Contraceptivos orais

Na odontologia geralmente os agentes antimicrobianos são utilizados na profilaxia ou tratamento das infecções bacterianas agudas por um período de tempo menor do que o preconizado na maioria das especialidades médicas, pois na clínica odontológica a intervenção profissional constitui o fator mais importante no controle da infecção. Esse fator limita a quantidade de interações com outros fármacos, sendo que algumas delas dependem da dose ou do tempo de administração (10,12).

Os mecanismos que envolvem as interações medicamentosas entre os antibióticos e outros fármacos podem ser explicados pela competitividade de diferentes drogas pelas mesmas proteínas plasmáticas e pelo fato de alguns medicamentos inibirem enzimas do citocromo P450, resultando em um aumento da concentração plasmática das drogas a níveis tóxicos para o organismo (24).

O uso de bebida alcoólica concomitantemente a alguns antimicrobianos, como metronidazol, cloranfenicol e sulfas é contraindicado porque pode resultar em reação similar à do dissulfiran. Estes medicamentos inibem a atividade da enzima acetaldeído desidrogenase, responsável pela metabolização do álcool, aumentando, dessa forma, sua concentração no sangue. O efeito dissulfiran é descrito na literatura como “sensação de morte”, caracterizando-se por dor no peito, hipotensão, palpitações, dificuldade respiratória, náuseas, vômito, transpiração excessiva e vermelhidão da face (25,26)

Não é proibitivo o uso social de álcool com antimicrobianos, já que não está relacionado à perda de eficácia desses fármacos em geral. Entretanto, o uso abusivo de álcool é totalmente desaconselhado durante o tratamento com antimicrobianos, pois se a ingestão corresponder a grande volume de líquido (de cerveja, por exemplo), a sobrecarga hídrica aumentará a filtração glomerular e a diurese, que também pode ser estimulada pelo efeito diurético do álcool, acelerando a excreção renal de fármacos ativos. Sobretudo, quando utilizados de forma controlada os antimicrobianos podem promover danos hepáticos como hepatite induzida por fármacos, colestase e necrose hepática; sendo que esses danos serão maiores em usuários crônicos de álcool quando em associação com a administração de eritromicina e azitromicina (12,25).

Em 1971 ocorreu o primeiro relato de falha contraceptiva associada ao uso de antimicrobianos, pela incidência aumentada de sangramento vaginal anormal em mulheres que utilizavam contraceptivos orais, mas que ao mesmo tempo estavam empregando rifampicina para o tratamento de tuberculose (27).

Back e colaboradores (1988) (28) associaram sessenta e três casos de falha em contracepção em mulheres que foram tratadas com antimicrobianos e faziam uso de contraceptivos orais, sendo que as penicilinas e tetraciclinas representavam 70% dos casos.

Desde então, houve um grande alerta aos profissionais da área da saúde quanto à prescrição de antibióticos em mulheres na fase reprodutiva, pois esses poderiam comprometer a eficácia dos contraceptivos orais e resultar em uma gravidez não planejada.

Rifampicina afeta a eficácia de contraceptivos orais. Os estudos de farmacocinética de outros antibióticos não demonstraram qualquer interação sistemática entre antibióticos e contraceptivos orais esteroides. No entanto, há pacientes que mostram grandes reduções nas concentrações plasmáticas de etinilestradiol quando tomam certos tipos de antibióticos, principalmente os derivados de tetraciclina e penicilina. Em função de não ser possível identificar estas mulheres com antecedência, uma abordagem cautelosa é aconselhada na prescrição desses medicamentos (29).

Pacientes que utilizam antibióticos têm propensão a apresentar alterações na flora gastrointestinal normal, resultando na redução da absorção da vitamina K, responsável por importantes fatores que medeiam a coagulação sanguínea. A utilização concomitante de antibiótico e anticoagulantes orais, como varfarina, pode resultar um aumento de hemorragias, pois a varfarina compete de forma antagônica com a vitamina K (17).

O glicosídeo cardiotônico digoxina é um medicamento utilizado para o tratamento de arritmias supraventriculares, possuindo estreito índice terapêutico ou baixas margens de segurança. É de extrema importância ter conhecimento das interações medicamentosas entre esse medicamento e outros fármacos, pois um aumento súbito no nível plasmático da digoxina pode levar a toxicidade grave. A eritromicina e a claritromicina, antibióticos macrolídeos, podem causar intoxicação digitálica, aumentando sua absorção intestinal da digoxina e diminuindo a excreção renal desta (3).

A associação entre antibiótico e anti-inflamatório é muito comum na prática clínica, sendo que a amoxicilina, ou sua associação com ácido clavulânico, é o antibiótico de escolha para o tratamento de infecções bucais e geralmente é associado aos AINEs. Ficou evidenciado que em indivíduos sadios a administração de diclofenaco por via oral causou uma redução na biodisponibilidade da amoxicilina provavelmente devido a uma queda na absorção e aumento da excreção renal (24).

As principais interações medicamentosas e reações adversas causadas pelos antimicrobianos podem ser observadas no Quadro 5.

Quadro 5. Quadro de interações medicamentosas e reações adversas dos antimicrobianos

Antimicrobiano

Principais interações

Reações adversas

Βlactâmicos

Penicilinas

Amoxicilina

Ampicilina

Cefalosporina

Tetraciclinas, Eritromicina, Aminiglicosídeos, Sulfonamidas, Contraceptivos orais, Varfarina, Dicumarol e AINEs

Alterações gastrointestinais, nefrotoxicidade, distúrbios da hemostasia, reações de hipersensibilidade e anafilaxia.

MACROLÍDEOS

Eritromicina

Claritromicina

Azitromicina

Digoxina, Varfarina, Midazolan, Contraceptivos orais e Teofilina

Alterações gastrointestinais, hepatotoxicidade, cardiotoxicidade, dispneia distúrbio da hemostasia

METRONIDAZOL

Álcool, Tabaco, Lítio e Contraceptivos orais

Hepatotoxicidade, nefrotoxicidade, dispneia, eritema facial, dor torácica, hipotensão, palpitações, náusea, vômito e sudorese

TETRACICLINAS

Antiacidos (hidróxido de alumínio ou magnpesio), Contraceptivos orais, Teofilina, Digoxina, Varfarina, Dicumarol e Penicilinas

Alterações gastrointestinais, glossite, pigmentação dentária, nefrotoxicidade, dispneia e distúrbios da hemostasia

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